vera+cruz

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Soneto à Lua

Por que tens, por que tens os olhos escuros
E mãos lânguidas sem fim
Quem és, que és tu, não eu, e estas em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com o que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não é Tatiana e nem Teresa:

E és tão pouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, Patética, indefesa
Ó minha branca e pequena lua!

                                                                  Vinícius de Moraes

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente.
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos.
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos.
Das noites que vivi acalentando
pela graça indizível,
dos teus passos eternamente fugindo.
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo.
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas.
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias.
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta.
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

sábado, 19 de setembro de 2015

Eterno Instante

Quando eu quis
A vida me disse não
O céu escureceu
As flores perderam a cor
Também o perfume
Um sorriso disse-me sim
Aqueles olhos
Mostraram-me um céu azul
Aqueles passos
Conduziram-me a um jardim
De flores raras e perfume inebriante
E naquele abraço

A eternidade de um instante

vera+cruz

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Para os Anjos

Hoje, nada tenho a dizer-te.
Nada a declarar.
Nada para escrever.
Só desejo.
 Apenas desejo que meu pensamento
chegue até você, junto com minha prece.
Logo chega a noite.
Já entardeceu.
Boa noite!
Tenha uma noite abençoada.
Durma com os anjos.

Anjo meu.

vera + cruz

domingo, 13 de setembro de 2015

O Sonho Acabou

Os sonhos estavam deliciosos
Comi-os um a um
Todos
Então deitei
Como um rei
Como um super star
Lentamente e com zelo
Rapidamente dormi
Pleno e satisfeito
Mas nada é perfeito
Acordei
Com um baita de um pesadelo

E um super mal estar

vera+cruz

Sonho Real

Durante a noite
É quando me sinto mais vulnerável
Mas também
É quando meus sonhos
Transformam-se em realidade
Ao qual você

Entre eles, é o mais bonito

vera+cruz

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Além da Saudade

Haverá o dia em que todo o meu sentimento
se resumira apenas a uma doce lembrança.
Meu coração, não pronunciará mais seu nome.
Não haverá mais razão para oferecer as flores
que incansavelmente colho todos os dias.
Não terei motivos para compor meus versos.
Mas estou ciente de que quando isso acontecer,
é porque a muito já deixei este plano existencial.
Porque o vento que toca minha vida,
o timão que conduz e dá sentido,
é a consciência plena de que meu coração

está totalmente no comando de suas mãos.

vera+cruz

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Diálogo Vocálico

- Ei iá-iá!
- Oi iô-iô!
- E aí?
- A é i, ou i é a?
- A é a.
- A é!
- E i é i.
- Eia!
- E o u?
- O u é u ué.
- E ou?
- Ou é, o e u.
- E, é e, ou é.
- É?
- É!
Ai é ui e ui é ai.
Aí é à ou ao.
eu é o Eu. 
Uau!
E o auê.

É uai ...

Vera Cruz +

sábado, 29 de agosto de 2015

O Cãozinho Fritz

Algo dói dentro de mim. Pareço um saco quase vazio, alguns ossos tremendo debaixo da pele de pêlos negros. Minhas pernas não conseguem mais me arrastar para lugar algum. Todos passam a mão em minha cabeça e eu, com dificuldade de coordenar os movimentos, abano a cauda. Carinhos me agradam, mas estou com fome.
Deito-me diante de um bar onde todos me olham com carinho (piedade, até). Sem forças, sorrio de minha maneira peculiar.
Um sujeito de óculos vai até sua carruagem sem cavalos e me traz um monte de bolinhas estranhas – nunca tinha visto. Cheiro e sinto que é alimento. A princípio, como devagar, desconfiado, pois não estou acostumado com comida de cachorro chique.  Ah! Deus! A vida parece voltar a cada bocada.
Resolvo agradecer a comida com minha presença. Já me sinto bem melhor e fico observando meu benfeitor: parece meio tonto e não para de me elogiar. Eu quase acredito que sou um dogue alemão, de tanto que ele fala - mas sei que sou só um vira-latas. Seus comentários quanto ao meu porte físico são, no mínimo engraçados.
Outro sujeito, parecendo nórdico, me acaricia. Sinto sinceridade quando diz que não me adota por já ter muitos cães. Eu o entendo; devemos dar mesmo muita despesa.
Ai surge o poeta. Não gosta muito dos da minha espécie, posso notar. Não nos odeia, mas poetas são assim: não conseguem manter relacionamentos por muito temp. E ele detestaria abandonar-me, como alguém já fez, um dia. Ele arruma um nome que todos parecem gostar: Fritz. Tem algo a ver com a cor negra de meu pêlo, acho. Parece divertido.
Então, detrás do balcão, eu o vejo. Sua figura brilha e o ar ao seu redor transpira a sabedoria que apenas anos de magia podem construir. Ele me traz um pedaço de alimento quentinho. Com cuidado para não parecer sem modos, eu o abocanho, devagar. Está uma delícia.
Satisfeito, cruzo as patas e repouso minha cabeça, cansada de tantas emoções boas. Observo os homens bebendo e sorrio levemente – já não é tão difícil balançar a cauda.
Mais adiante, percebo o homem sábio atrás do balcão olhar para mim.
Eu suspiro e oro para... Não! É pedir demais. Já me deram comida, carinho: mais do que eu recebi em meses. Não tenho direito de pedir mais nada. Daqui a pouco, eles vão para as suas casas e eu vou perambular por ai.
Enfim, o bar cerra as portas. Com uma lágrima presa no soluço contido com dificuldade, preparo-me para ir embora.
Eis que ouço um assobio. O Vavá (aprendi seu nome) abre o portão e, carinhosamente, pergunta se quero entrar.
Eu fico feliz e pulo.  Grito como vou ser fiel, como vou cuidar dele e dos seus. Como ele nunca vai se arrepender de me dar moradia. Como eu morderei qualquer um que fale alto com ele.
No novo lar, quase morro de felicidade. Mau mestre vai dormir. No silêncio, estou alerta! Vou cumprir minha promessa. Eu o protegerei com a minha vida, se for preciso. Afinal, eu não tinha mais vida quando fui adotado.
A noite se aprofunda e o silêncio envolve a cidade. Olho para o céu estrelado e suspiro intensamente. A lágrima presa solta-se, devagar e feliz.
Meu Deus! Estou salvo.


                                                        Wilson Roberto C. Almeida

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O bom, não é ser importante, o importante é ser bom...

desejo

Querer é poder
Seja o que quiser
Queira ser
Seja lá o que for
Nada não se pode ser mesmo
Mesmo sem querer ser
Mesmo sem poder
Assim mesmo serás
Queira ou não queira
Possa ou não possa
Querer ser
Querer ter
Desejar poder
Tudo pode ser
Assim sendo

Que assim seja

vera+cruz

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Noturno Cotidiano

A madrugada.
Precisa e pontual.
Assim é sua chegada.
Dia-a-dia.
Sempre igual.
Mansa e sorrateira.
Traz você como companheira.
Não tenho escapatória.
Dessa visita desordeira.
Repete-se a história.
Instala-se a insônia.
Inicia-se meu instante.

Começa tudo outra vez.

vera+cruz

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Iludindo a Solidão

Basta-me fechar os olhos.
E no mesmo instante.
Tão distante e ausente.
Você se faz presente.
A cada vez é mais frequente.
E no vazio de meu interior.
Meus olhos buscam um esplendor.
Do silêncio absoluto.
Brotam palavras como água de fonte.
Formando versos em seu louvor.
De notas que ouço, faço uma canção.
Para o bailado de nossas almas.

Para iludir minha solidão.

vera+cruz

sábado, 22 de agosto de 2015

Inevitável Presença


Tem dias que invades meu pensamento.
Assim, sem acanhamento.
Cheia de atrevimento.
Entras sem pedir licença.
Desorganiza meu coração.
Depois sai pelos meus olhos.


E se derrama pelo chão.

vera+cruz

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Fernando Pessoa

Amo como ama o amor.
Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.

Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Coisas do Vento

Veio o vento.
Trovejou.
Veio a chuva.
Qual relâmpago você me invade o pensamento.
Que raio!
O vento foi.
O relâmpago apagou.
O trovão silenciou.
A tormenta cessou.
Em vez de bonança.
Você ficou.
Trouxe a cheia.
Tortura, tormento.
Enchente na mente.
Atolou o pensamento.


O que fazer com esse sentimento?

vera+cruz


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sucesso de Bilheteria

DEPOIS DA TEMPESTADE VEM A ENCHENTE

o filme

Staring
Deep Ronna and Ema Thomas

Participação espedial
Zé Dorante

Uma produção de:

Mick Tórius

vera+cruz

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

DA SOLIDÃO

Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.
No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma tal solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender e escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos.
Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloquência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais estético dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico em sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, construindo, de certo modo, seu espírito e sua alma.
Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio das linhas, a graça das proporções: muitas vezes  seu aspecto – como o das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.
Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranqüilos, metódicos telados... Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais que desejaríamos traduzir.
Tudo palpita ao redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem nos anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de existir: que não faz da sua presença um anúncio exigente. “Estou aqui! Estou aqui!”. Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e sensível.
Oh! Se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente.


                                                                Cecília Meirelles

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

AMERICAN WAY LIFE



“Grande Espírito, cuja voz ouço cantar, cujo alento vivifica o mundo todo, escuta-me! Eu venho em frente a Ti como um de Teus inúmeros filhos. Olha-me! Necessito de Tua força e sabedoria! Permite-me caminhar olhando a beleza da Natureza; permite que minhas mãos honrem sempre Tuas obras e que meus ouvidos escutem Tua voz. Faz de mim um sábio para compreender aquilo que Tu mostraste ao meu povo: o ensinamento que Tu escondeste em cada folha e pedra. Quero ser forte, não para ser superior ao meu irmão, mas para vencer meu maior inimigo: eu mesmo. Faz com que eu esteja pronto para chegar a Tua presença de mãos limpas, olhos puros, para que a minha alma, quando se for, como o Sol se põe, possa chegar a Ti se envergonhar-se”.

O texto acima é uma oração a Wakan Tanka (O Grande Espírito), de autoria dos índios Sioux, e mostra como os estadunidenses herdaram pouco ou nada dos verdadeiros norte-americanos.
Analisemos alguns trechos da prece:
Eu venho em frente a Ti como um de teus filhos – Não, os estadunidenses não pensam assim. Acham-se donos do mundo e consideram-se os únicos filhos de um deus hipócrita como eles;
Permite-me caminhar olhando a beleza da Natureza – Eles olham, sim. Lançam olhares cobiçosos sobre a Amazônia, depois de terem dizimado suas próprias florestas. Algum tempo atrás, o psicopata/rancheiro, que é o líder deles, sugeriu cortar árvores para evitar incêndios (tsc!):
Permite que minhas mãos honrem sempre Tuas obras – As mãos deles estão traçando planos para retomar o controle da economia mundial, que está escoando pelos seus dedos. Dedos loucos que disparam armas de longa distância em nômades atrasados, que reagem com armamento tão antigo que se equipara a paus e pedras;
Quero ser forte, não para ser superior ao meu irmão... – Nesse quesito pode haver alguma semelhança, desde que o irmão seja outro estadunidense. Os povos do Terceiro Mundo são apenas consumidores de seus produtos alienantes;
...mas para vencer o meu maior inimigo: eu mesmo – Aqui temos algo que eles não conseguirão fazer: vencer a si próprios. Estão cada vez mais emaranhados na teia de intrigas, mentiras e crueldades que eles mesmos teceram. Encontram-se no limiar de um colapso causado por sua própria política, totalitária e egoísta.
Você deve estar estranhando a comparação dos nobres SIOUX com um povo pobre de espírito e agonizante como os estadunidenses. E com razão. Esses covardes não têm nada em comum com os valentes guerreiros. Para definir como eles pensam e agem, as palavras antológicas do general Philip Sheridan, da Sétima Cavalaria dos Estados Unidos, soam mais de acordo: “Índio bom é índio morto”.
Detalhe a Sétima Cavalaria foi dizimada pelos Sioux em 1870. O chefe da tribo era Sitting Bull (Touro Sentado) e os guerreiros foram liderados pelo chefe de guerra Crazy Horse (Cavalo Louco). Nela morreu um dos “grandes heróis” dos Estados Unidos: o general George Armstrong Custer.
Outro detalhe: vinte anos depois, a “gloriosa” Sétima Cavalaria vingou-se “heroicamente” da mesma tribo, matando 354 índios que já haviam se entregado, em Wounded Knee. Foram 104 guerreiros desarmados e 250 mulheres e crianças. Seus cadáveres podiam ser encontrados num raio de 10 quilômetros.

Esse é o famoso “Americam way of life”, que alguns néscios babões tanto admiram.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Jamais te Esquecerei

Encerra-se uma etapa, da sagaz saga sagrada da minha aguerrida lida com a vida.
Enfim, chegou o fim para ti e para mim.
Não há desculpa, já que não há culpa.
Lembro-me de ti.
Misturo ternura e dolorosa tortura.
Nas recordações das ações de dois corações.
Nos dias idos e nos amanhãs temidos que ainda serão vividos.
Saudoso, recordo como foi perigoso e gostoso.
Já houve o calor do amor e o furor da dor.
A paixão, louca e não pouca.
Planos para anos e anos de grandes enganos.
Agora começará de novo.
Há novas etapas, eu sei.
Mas não te esquecerei.
Ainda haverá muitas flores, de todas as cores e odores, partilhadas com amores ou amainando minhas dores.
Não te esquecerei, eu sei.
Outrora já tentei.
Ainda formarei pares, terei milhares de lares, nos mesmos lugares ou em outros ares.
E eu não te esquecerei.
Nem sequer tentarei.
Ainda haverá tormento, lamento e sofrimento, em meu intento de fomento de sentimento.
E o tempo passará.
Mesmo não sabendo onde tu estás.
Tua lembrança permanecerá.
Quando enfim a vida, comprida e já cumprida.
Em seu final, afinal mostrar-me tal mortal.
De bom grado, recordarei algo sagrado:
Tu.
Meu coração sorrirá em clara calma.
E eu me lembrarei no fundo de minha alma:
Em meu leito, teu peso sobre meu peito:
No ar, o luar de teu olhar.
Em meu último momento.
Apressar-me-ei em preciosa prece.
Em homenagem ao amor que sempre me aquece.
Com tua imagem presente em minha mente.
A morte chegará lentamente.
Meu derradeiro suspiro darei.
Feliz, pois jamais te esquecerei.


                                  Wilson Roberto C. Almeida

sábado, 1 de agosto de 2015

Entrementes


A mente
Somente a mente
Mente somente
Só mente a mente
Mente doente
Mente demente
Semente do mal
Mente do ente
Mente do ser
Temente
Maligna serpente
Mente dementemente
Alucinada, mente
Desvairada mente
Inconsequente, inconstante
Indecente, escandalosa
Escancaradamente
Mente inútil
Inutilmente
Infinitamente
Agora é com você
Continue
ou

Comente
Ao menos tente
De repente
Invente...


vera+cruz


Luz e Trevas

A luz se projeta na escuridão.
Escuridão é a tela da luz.
A luz só é luz nas trevas.
A luz pousa.
No pouso das trevas.
A luz repousa.
No leito das trevas.
O que vemos em luz.
É o que não vemos em trevas.
Por que temê-la?
O belo, a paz e a segurança.
São indiferentes.
Sempre são.
Sempre estão.
Em luz ou escuridão.
O que seria da luz?
Iluminar o que?
Clara solidão.


Se não existir escuridão.

vera+cruz

Cantar

Cantar
Compor
Encantar
Recompor
Recantar
Reencantar
Em ponto e contraponto
Em todos os tons
Sempre, eternamente
Cantar todo tempo
Em todos os tempos
O tempo todo
Compondo
Contrapondo
Se recompondo
Por todos os cantos
Pelo encanto


Em todos os recantos

vera+cruz

sábado, 18 de julho de 2015

Discordância Verbal



Não quero nada de você.
Não quero nada com você.
Nem ao menos quero você.
De você, já tive.
Com você, já fui.
Você, já foi.
Presente estou.
Ausente estás.
Passado eu fui.
Pretérito perfeito foi você.
Pretérito imperfeito tínhamos nós.
Se tivéssemos tido.
Se tivéssemos havido.
Se tivéssemos sido.
Talvez tivéssemos composto um futuro.
Sei lá!
Mais que perfeito, sonhara eu.
Eu sou.
Tu és.
Afirmativamente.
Nunca sejamos nós.
Negativamente.
Futuro, não tenhamos nós.
Num futuro, seríamos só do pretérito.
Nós éramos.
Total discordância.
Presente, só lamentos.
Quanta maldade há nos tempos.


Ah! Quanta saudade dos tempos.

vera+cruz

terça-feira, 17 de março de 2015

poesia em pó




De poesia, só o pó é que restava.

O  vento soprou.

O pó agarou-se às plantas.

Hidratou-se no orvalho.

Alimentou-as.

Fez-se flor.

Frutificou.

Semeou.



E, ao pó voltou.


vera+cruz